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A celeuma na Macedônia envolve mais do que apenas o nome do país

A celeuma na Macedônia envolve mais do que apenas o nome do país

Conteúdo postado em 05/10/2018

Olá, Sapientes! Para a coluna de Atualidades de hoje, vamos falar sobre um dos atuais contenciosos dos Bálcãs, e quais são suas consequências para a Europa.

 

Ex-República Iugoslava da Macedônia. Ou FYROM, na sigla em inglês (Former Yugoslav Republic of Macedonia). Desde 1993, esse é o nome adotado internacionalmente pela autointitulada República da Macedônia inclusive em seu assento na ONU —, principalmente porque a Grécia não conseguia aceitar o nome escolhido pela vizinha.

 

A discordância da Grécia

 

O nome ‘Macedônia’ designa várias coisas na região báltica. Na Idade Antiga, estava associada ao império de Alexandre, o Grande, do qual a Grécia contemporânea se considera herdeira. O termo também está em três das treze divisões administrativas gregas (as chamadas periferias): Macedônia Central, Macedônia Oriental e Trácia, e Macedônia Ocidental.

Por causa disso, a Grécia argumenta que o uso do nome “República da Macedônia” é um risco nacional, visto que pode ensejar ambições de anexação na antiga república iugoslava, já que a Macedônia histórica englobaria territórios das duas repúblicas contemporâneas.

 

Então, desde 1993 a Grécia bloqueia o acesso da Macedônia na União Europeia e na Otan, já que o acesso a ambas as organizações se dá com a anuência de todos os membros. Resolver a questão do nome era, portanto, de interesse central para os planos de projeção internacional da Macedônia

 

O acordo de Prespa

 

Em junho de 2018, os líderes da Grécia e da Macedônia finalmente assinaram um acordo que definia o nome a ser adotado pela ex-república iugoslava: República da Macedônia do Norte. O documento foi assinado às margens do Lago Prespa, na fronteira entre os dois países e a Albânia. O acordo foi celebrado internacionalmente, especialmente por membros ligados à União Europeia. Entretanto, houve ataques de ambos os lados por facções nacionalistas. Os nacionalistas macedônios alegam que o primeiro-ministro Zoran Zaev cedeu demais ao permitir a inclusão do localizador geográfico; já os gregos afirmam que o primeiro-ministro Alexis Tsipras não deveria ter permitido sequer o uso do termo Macedônia. 

 

O acordo previa ainda a realização de um referendo na Macedônia para que fosse acatado o novo nome. Realizado no último domingo (30/09), o referendo não vinculante decepcionou os apoiadores da mudança: apesar de uma vitória de mais de 90% dos votos a favor do novo nome, apenas 36% da população votou. A baixa participação complica os planos do premiê Zaev, já que põe em xeque a legitimidade do pleito. Os nacionalistas, insatisfeitos com o acordo, solicitaram ao povo que boicotasse o referendo. Zaev, contudo, já afirmou que continuará tentando fazer com que o parlamento aprove a mudança, mas a batalha será difícil.

 

A (possível) futura República da Macedônia do Norte no tabuleiro da geopolítica europeia

 

As disputas sobre o nome podem ser vistas apenas como uma questão nacional, mas analistas acreditam que outros elementos podem estar influenciando o pensamento no país balcânico. Apesar de a adesão à UE e à Otan ser um desejo de grande parte da população macedônia, existe um ator externo preocupado com esse movimento: a Rússia. Ter mais um país eslavo aproximando-se do Ocidente não é algo necessariamente condizente com os planos russos.

 

O cenário interno macedônio faz lembrar outras acusações de ingerência russa. Locais relataram um grande número de postagens no Facebook pedindo pelo boicote ao referendo, com chamadas como “você não vai deixar os albaneses decidirem o futuro país, não é?” (albaneses são minoria na Macedônia), o que se assemelha à ação nas eleições americanas. Também existe o exemplo da Crimeia, em 2014, cuja crise se iniciou justamente após um movimento de negociação entre a Ucrânia e a União Europeia.

 

A batalha final para a mudança do nome ainda precisa ser travada no Parlamento. Resta acompanhar os próximos capítulos para saber se a Macedônia finalmente terá um nome para chamar de seu.

 

Para saber mais: The Guardian (em inglês)Deustch Welle.

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