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Guerras Árabe-Israelenses

Guerras Árabe-Israelenses

Conteúdo postado em 16/06/2017

No dia 5 de junho de 1967, teve o início a Guerra dos 6 Dias, também conhecida como 3a Guerra Árabe-Israelense, que provocou mudanças profundas na dinâmica geopolítica do Oriente Médio. Para marcar os 50 anos desse conflito, o blog Sapi preparou um pequeno resumo dos principais conflitos entre Israel e os países árabes vizinhos.

 

1a Guerra Árabe-Israelense (1948)

 

Também conhecida como a Guerra de Independência de Israel, o conflito tem suas origens nas negociações para a resolver a questão do mandato da Palestina. A migração de judeus para o território administrado pela Grã-Bretanha vinha se intensificando desde a Primeira Guerra Mundial e contava com a anuência da potência europeia e gerava fortes reações contrárias dos povos árabes vizinhos. A posição britânica, entretanto, altera-se durante a Segunda Guerra Mundial, quando passa a querer aproximar-se dos países árabes do entorno para garantir recursos para o esforço de guerra e afastar a influência da Alemanha nazista, o que leva a Grã-Bretanha a restringir a entrada de judeus no território palestino, gerando, em contrapartida, oposição da comunidade judaica.

 

O recrudescimento de tensões na região no pós-guerra levou a Grã-Bretanha a anunciar a decisão de entregar o mandato à ONU, pois não conseguia controlar as forças desestabilizadoras da região. Passa a ser defendida a Solução de 2 Estados, na qual o território palestino seria dividido entre árabes e israelenses para a formação de Estados independentes. A resolução 181, de 1947, é aprovada pela ONU com apoio de Estados Unidos e União Soviética, mas com clara oposição dos países árabes, que veem a população árabe desprivilegiada na divisão territorial. Em meio a essas tensões, a Grã-Bretanha deixa o território, criando um vazio de poder aproveitado por Israel para declarar sua independência no dia 14 de maio de 1948. No dia seguinte, uma Liga Árabe formada por Transjordânia, Egito, Síria, Líbia e Iraque, declaram guerra a Israel.

 

A falta de coesão dos Estados árabes, cujos países estavam em processo de construção de suas próprias identidades e mais preocupados com interesses nacionalistas que na defesa de um sentimento pan-árabe, auxilia na vitória de Israel e nos amplos ganhos territoriais conquistados (cerca de 20 mil quilômetros). Além de demonstrar a fraqueza do panarabismo e exacerbar os nacionalismos regionais (em particular no Egito), o conflito gerou também a questão dos refugiados palestinos, que são proibidos de retornar ao território conquistado por Israel. Por meio da resolução 302, de 1948, a ONU criou a Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA, em inglês) para auxiliar no desenvolvimento e na promoção de assistência humanitária a esses refugiados.

 

2a Guerra Árabe-Israelense (1956)

 

O nacionalismo egípcio, fortalecido após o primeiro conflito com Israel, possibilita a chegada ao poder de Gamal Abdel Nasser, em 1954. Com o intuito de criar uma esfera de influência para o Egito que compreendesse o Oriente Médio e o norte da África, Nasser busca se afirmar frente França e Grã-Bretanha que, apesar de terem ingerência na região, estavam em processo de declínio. Para isso, Nasser promove a nacionalização do canal de Suez, em 1956, controlado pelos britânicos, dificultando o trânsito entre o Mediterrâneo e o Oceano Índico, rota tradicional das potências europeias. Devido à rivalidade crescente com Israel e a percepção de que o Estado judeu era uma ameaça regional, Nasser também fecha o estreito de Tiran, impedindo a ligação de Israel com o Mar Vermelho. Como reação às medidas de Nasser, França, Grã-Bretanha e Israel atacam a zona do canal.

 

A resolução do conflito ocorreu mais pelo viés político que pelo militar. Estados Unidos e União Soviética colocam-se contra a ação de França, Grã-Bretanha e Israel, primeira vez que as superpotências têm uma ação concertada na ONU. A posição comum, contudo, tem motivos divergentes: a URSS via a ação militar como uma projeção do imperialismo ocidental e queria aproximar-se dos países árabes; os Estados Unidos queriam conter o fortalecimento da URSS na região e, para isso, precisavam substituir o protagonismo britânico no Golfo Pérsico. A resolução 1001, de 1956 do Conselho de Segurança estabelece a retirada das forças invasoras do canal de Suez e o estabelecimento de uma Força de Emergência das Nações Unidas para manter a paz entre Egito e Israel na região. O conflito marcou uma vitória política de Nasser (apesar da derrota militar), o que fortaleceu não só sua posição frente aos países árabes vizinhos como também a questão palestina e a necessidade de criação do Estado Palestino. A guerra marcou também o ocaso da ingerência das potencias europeias tradicionais na região (França e Grã-Bretanha) e a maior participação das superpotências nos assuntos do Oriente Médio.

 

3a Guerra Árabe-Israelense (1967)

 

A chamada Guerra dos 6 Dias foi o conflito mais curto entre Israel e seus vizinhos árabes, porém trouxe profundas mudanças para a dinâmica regional. Com o fortalecimento do nacionalismo pan-árabe na figura de Nasser após a Crise de Suez, a questão palestina também ganhou novos contornos.

 

Em 1959, foi criado o Fatah, movimento de tradição secular e que buscava a instituição do Estado palestino, e em 1964, durante a Conferência do Cairo, foi criada a Organização para a Libertação Palestina (OLP), que buscava a libertação da Palestina, não reconhecendo Israel nem aceitando a solução de Dois Estados. Esse fortalecimento do nacionalismo pan-árabe levou Israel a empreender uma ofensiva preventiva contra os vizinhos, visando resguardar a área core do país contra uma possível investida de Nasser.

 

Durante a “guerra relâmpago”, Israel conquistou amplos ganhos territoriais, em muito devido à incapacidade de reação dos países árabes. Israel passa a ocupar os territórios egípcios da Faixa de Gaza e da Península do Sinai, retoma o território da Cisjordânia (que havia sido negociado com a Jordânia no contexto da 1a guerra árabe-israelense) e ocupa também as Colinas de Golã, da Síria. A ação israelense é condenada pela ONU por meio da resolução 242, de 1967, na qual a organização exige a retirada completa desses territórios, até hoje não cumprido pelo governo israelense (apenas a Península do Sinai foi devolvida ao Egito).

 

Reunidos na Conferência de Cartum no mesmo ano, oito países árabes (Egito, Síria, Jordânia, Líbano, Iraque, Argélia, Kuawit e Sudão) respondem diplomaticamente à agressão israelense por meio do Discurso dos 3 Nãos, onde afirmam que não declararão paz com Israel, não reconhecerão o Estado de Israel e não negociarão com Israel. O conflito gerou nova onda de refugiados, em particular para a Jordânia, criando ainda mais instabilidade para o país, e também causou o fortalecimento da OLP e do Fatah, que chega à presidência da OLP com Yasser Arafat.

 

4a Guerra Árabe-Israelense (1973)

 

Conhecido como Guerra do Yom Kippur, o conflito tinha como motivação principal o desejo do Egito e da Síria em recuperar os territórios perdidos durante a Guerra dos 6 Dias (Península do Sinai e Colinas de Golã, respectivamente) e foi influenciado pela ascensão de um novo líder no Egito, o conservador Anwar Sadat, após a morte de Nasser em 1970. As ofensivas ocorreram durante o ano novo judeu (Yom Kippur) e surpreendem Israel, que inicialmente sofreu derrotas significativas, mas conseguiram reverter a situação, chegando inclusive a conquistas mais territórios, como parte da margem oeste do canal de Suez.

 

A grande inovação desse conflito foi o uso do petróleo como arma política pelos países árabes. Apesar de não participarem diretamente do teatro de guerra, os países vizinhos promovem, por meio da Organização de Países Exportadores de Petróleo (OPEP), uma restrição às exportações de petróleo, aumentando significativamente o preço no mercado internacional. A crise energética e econômica gerada por essa restrição leva não somente à perda de credibilidade sistêmica dos Estados Unidos como também a maior vontade de negociação e ingerência por parte de Washington nos assuntos da região. Em 1974, é alcançado um acordo de paz entre as partes, que leva à desocupação do Canal de Suez, e, em 1978, por meio do Acordo de Camp David, há o reconhecimento de Israel por parte do Egito e a devolução da Península do Sinai.

 

Apesar do desfecho negociado, a instabilidade na região permanece. Sadat é assassinado por um nacionalista extremista por ter aceitado os termos do acordo com Israel, o Líbano imerge-se em uma longa e custosa guerra civil e há um fortalecimento dos fundamentalismos na região, exemplificado pela Revolução Iraniana, de 1979. A questão entre árabes e israelenses passa a ter um foco maior na questão palestina propriamente dita, sob a liderança da OLP e de Yasser Arafat. Os países árabes do entorno mantêm o apoio à causa palestina e a rejeição ao Estado de Israel, porém os conflitos passam a voltar-se mais para a resolução das questões pendentes em relação ao antigo território do mandato da Palestina e aos Estados que ali buscaram se estabelecer.

 

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