
Dicionário de Sociologia para o CACD

Dicionário de sociologia para o CACD: Credibilismo e Autonomismo
Conteúdo postado em 16/04/2021
Olá, sapientes!
Duas posturas têm marcado a formulação da política externa brasileira (PEB) desde, pelo menos, a segunda metade do século XX: o credibilismo e o autonomismo. Conhecer esses dois paradigmas é importante para entendermos a tradição da diplomacia brasileira. Por isso, pode deixar que a gente explica tudo!
Credibilismo
O paradigma credibilista define que o Brasil tem de buscar alcançar uma boa credibilidade internacional para poder atrair investimento e fazer mais negócios. Uma política credibilista é ortodoxa e envolve ter boas relações com o mercado financeiro, o que significa dizer que o Brasil vai se esforçar para cumprir as normas internacionais e para pagar suas dívidas no tempo certo. Em outras palavras, governos credibilistas são aqueles que tentam fazer tudo “direitinho” e tentam criar uma boa imagem do país para o FMI e o Banco Mundial.
Ser um credibilista tem suas vantagens, mas exige sacrifícios. Apesar de, normalmente, as medidas credibilistas serem as responsáveis por melhorar a imagem do país em âmbito internacional e facilitar o comércio e a atração de investimentos (digo “normalmente”, porque nem sempre as coisa acontecem como a gente planeja…), esse paradigma diminui bastante a liberdade do país e exige muita disciplina.
Além disso, geralmente, governos credibilistas formulam uma PEB de aproximação com as lideranças globais, mas isso não é a regra. Líderes credibilistas também podem ter boas relações com o sul global, ainda que, normalmente, isso ocorra só quando a relação com as potências já estiver garantida.
Dois presidentes que fizeram uma política majoritariamente identificada com o credibilismo foram Juscelino Kubitschek e Castelo Branco. Lembrando que a teoria é muito mais uniforme do que a realidade, e que esses dois governos também tiveram seus momentos autonomistas.
E o que é o autonomismo?
O autonomismo é o paradigma que privilegia a liberdade. Ser um autonomista é não dar muita importância para a opinião das principais lideranças globais e ter um espaço maior de decisão com a busca de novos parceiros.
Para entendermos como identificar governos autonomistas, é só observar a política de Costa e Silva. Esse presidente militar, no auge da ditadura, negou-se a assinar acordos com os Estados Unidos e manteve uma política focada na aproximação com a Índia e a América Latina.
Outro governo autonomista é o de Geisel, que teve uma péssima relação com os EUA, mas que conseguiu superar entraves de longa data para o relacionamento com a África e Oriente médio.
Bora ver como isso ocorreu na prática?
Normalmente, governos credibilistas precedem autonomistas na liderança da política brasileira, o que é bem natural. Se o governo anterior, credibilista, já arrumou a casa e melhorou a imagem internacional do país, sobra mais espaço para atuar livremente como um autonomista no governo seguinte, né?
A gente pode perceber isso analisando as últimas presidências. Com o fim da guerra fria e o início da globalização de fato, o autonomismo que prevaleceu na ditadura foi substituído pelo credibilismo. Obviamente, o Brasil precisava melhorar sua imagem internacional depois de vinte anos de ditadura e é por isso que nosso país ratificou, nos anos 1990, diversas convenções internacionais, incluindo aquelas tratando de direitos humanos.
No entanto, o credibilismo desse período não agradou a todo mundo. Setores tanto de direita quanto de esquerda criticaram o credibilimo dos anos 1990 e início dos anos 2000: nacionalistas, incluindo conservadores, a direita e os militares, assim como setores anti-globalização da esquerda.
O ex-presidente Lula, por exemplo, foi eleito nesse contexto por criticar a globalização, mas acabou aderindo à continuidade do processo de globalização após a eleição. Esse governo usou a credibilidade alcançada por seu antecessor, FHC, para fazer uma política externa que não precisava optar por ser credibilista nem autonomista.
Isso pode ser explicado pelo fato de aquele momento anterior à crise de 2008 fazer parte de uma conjuntura bastante especial. A credibilidade obtida nos anos 1990 foi somada à alta nas exportações brasileiras e nos preços das commodities, resultando em uma situação mais confortável e de maior liberdade para os países do sul global.
Atenção!
Como já falamos, a realidade não é tão uniforme quanto a teoria. Sendo assim, podemos perceber que o governo Lula é majoritariamente identificado como autonomista, já que foi nesse momento que o Brasil despontou como liderança do mundo periférico e ampliou a busca por novos parceiros, mas também teve características credibilistas, como ter obtido grau de investimento, além de ter construído ótimas relações com os Estados Unidos e tornado o Brasil um parceiro estratégico da União Europeia.
O governo atual, por outro lado, não pode ser identificado nem como credibilista nem autonomista. A bancada que apoia o presidente Bolsonaro desejava o rompimento com a tradição anterior, até mesmo com o credibilismo de FHC. Como resultado, o governo atual propõe fazer uma política que não é identificada com nada que já passou pela presidência anteriormente.
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